quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

[ABANDONO]

A violência velada diária da cultura de abandono está em todos os espaços urbanos, mas é mais nítida pelas margens da sociedade paulistana.

Abandono das coisas, dos lugares e... de pessoas.

Pessoas abandonadas pela família ou que abandonaram as suas famílias, elas estão ali na rua, às vezes, de baixo de pontes ou toldos de estacionamentos.

Coisas abandonadas pelas ruas, praças, ao lado de pontes... e os lugares abandonados, deixados ao descaso.

Quanta comida é jogada fora no final de uma feira na Capital?

O desperdício de talento humano, de comida, espaços e cultura de consumo e descarte é exemplo singular do nível de sinistro que a sociedade atingiu.

Cooperamos para sobreviver, o sistema competitivo serve de adubo ao próximo cículo, mais resiliente, diverso, complexo e... cooperativo.

Cooperativas são empresas, iguais a quaisquer outras; mas os vários donos montaram a empresa para responder uma necessidade "deles".

Cooperativas de consumidores são dos consumidores (que "necessitem" acessar comida mais barata), de produtores são dos produtores (que "necessitem" facilitar escoamento ou processamento).

Cooperativas de trabalhadores são dos funcionários (que "necessitem" acessar segurânça de emprego).

Na Casa Amarela/Estradão/PermaGuaru, temos "cooperativas de trabalhadores" em embrião (demora 2-5 anos para montar esse modelo, e temos que começar com pessoas que já são amigas)

Os três coletivos estão abraçando a "violência do abandono" atraves de multirões de permacultura urbana.

Na Casa Amarela, a cultura Slowfood já é rotina, e o freeganismo nossa vertente.

No PermaGuaru, trabalhamos comunidade e fizemos uma academia e laboratório de pesquisa permanente de permacultura na Biblioteca Comunitária CECAP-GRU.

No Estradão, atuamos na recuperação e resignificação de um espaço na Antonelo de Messina, 222, no fundo do quintal da Esocla Estadual Eunice T. O. Fragoas.

Aonde esses coletivos andam juntos, temos grandes mudanças nos espaços.

SE está abandonado, é lixo.. e LIXO não é apenas LUXO para nossos coletivos; se "transmuta" também, em ARTE.

Não existe lixo, existe recursos mal distribuidos e ao decorrer dos anos, cooperando entre uns aos outros, conseguimos fomentar aos poucos, um modelo que gostamos que gera BRISA.

Ao bater uma praça abandonada, chegamos com cozinha itinterante, comida processada de xepa, sementes de adubação verde (3-4 irmãs), mudas e sementes do chão da feira e os lixões do local em busca de recursos.

Colchão, tecido, roupas, sofá, caixote de feira podem virar canteiros com palha, folha, serragem...

Armário pode virar placas informativas, poéticas ou ilustrativas, garrafas pet se transformam em sistemas de irrigação no deserto. 

Entulho pode virar mobília, obras de arte ou canteiro.

MISSÃO:

PERMABLITZ
1. tecnica de "montar" uma cozinha coletiva relâmpago...
(c/ banheiro seco, e pia 😅)
2. preparar comida SLOW...
3. servir antes do almoço 11h.
4. PermaBLITZ a tarde numa praça cagada...
5. fogueira de madrugada
6. coletivo dorme dentro da cozinha comunitária.
7. café da manhã
8. técnica de "desmontar" uma cozinha coletiva relâmpago.

O resultado é IMPACTO.

https://youtu.be/JuaM7oBcn-A

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Inspiração e Criatividade do Rpgista...

Conversando com um Mestre de D&D Medival, com seu próprio mundo de RPG, voltado para educação, Trinômia, do Leonardo Antunes, ele revela o seu segredo para alcançar um nível máximo de inspiração e criatividade, sempre que for necessário.

Inspiração e Criatividade do RPGista...
Ah, aos 15, 16 anos era basicamente aquele devaneio adolescente, sonhando com o amor ideal, deixando-se levar pelo vento, o cheiro da chuva, o vinho e o mundo dos sonhos.

Depois, aos 17, era também uma inquietação filosófica. Aquele desejo de entender o engenho do mundo e fazer-se senhor de todo o conhecimento acumulado por milênios.

Leituras compulsivas e textos aludindo a autores póstumos em diálogos forjados.

E também uma necessidade de produzir a maior quantidade de texto no menor tempo possível, para se igualar aos ídolos do passado.

Provar-se para si mesmo e para os outros.

Uma cena típica dos 17 foi eu conversando no MSN com minha futura namorada enquanto escrevia freneticamente um poema para lhe pedir em namoro.

Precisava acabar logo, porque ela estava para sair e eu não aguentava ficar um dia mais sem dizer para ela que precisava dela.

Aquela angústia desmedida e o peito dilacerado por dúvidas e incertezas.

Foi esse poeminha aqui.

O poema é tão fraco e débil quanto a minha própria experiência e auto-confiança era naquela época. haha

Mas é um resquício daquela época cheia de magia.


Veja mais do Leonardo Antunes:
http://www.eugraphia.com.br/index.html

domingo, 20 de janeiro de 2008

Filosofia de Meia-Tigela

Tive a felicidade de conhecer esse narrdor de LARP de Vampiro: à Máscara e Idade das Trevas, antes mesmo dele entrar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo por volta do ano 2000 quando começaram os primeiros Live Actions do seu grupo Passargada. Com o passar do tempo, o seu pensamento sobre RPG foi madurecendo, como todos nos, mas segue aqui um exemplo perfeito de pelo menos sete anos de experiência, de alguem que nunca desistiu da nossa arte, mesmo adiante de uma faculdade tão estressante como a USP. Essa carta veio pela Lista de Discussão em OFF do Passargada no finalzinho de 2006, e demonstra claramente muitas das mesmas dificuldades que tivemos que superar em Mogi Guaçu durante as realizações Triunvirato; Unidos, venceremos:-)

"Eu queria não ter que me envolver nessa discussão mas vejo que será necessário antes que ela comece a tomar proporções indesejadas.

Esta mensagem não é para colocar "panos quentes", mas sim para trazer uma reflexão, e eu gostaria que os jogadores pensassem um pouco no assunto para ver se conseguimos mudar a postura de todos em relação ao live - a nossa e a de vocês.

Quando preparamos a história, ajudamos na montagem dos personagens, narramos as cenas - enfim, tocamos o Live para a frente - fazemos isso não para satisfazer nossas vontades de "controlar" o destino das coisas. Se fosse só esse o nosso objetivo, a gente escrevia um livro e publicava, que iria dar mais dinheiro.

O objetivo também não é combater a nossa baixa auto-estima (no caso dos narradores "bonzinhos" e "manipuláveis") nem satisfazer o nosso orgulho próprio (no caso dos narradores "malvados" e "manipuladores") (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência). Se fosse esse, o Pasárgada seria um live em que os narradores têm personagens mega-fodônicos e ficam competindo entre si para ver quem joga melhor, enquanto a maioria dos jogadores são meros apêndices de um jogo muito menos articulado.

Ao invés disso, a gente sempre tentou montar um live, na qual o resultado final, é uma CONSTRUÇÃO, que é realizada EM CONJUNTO entre jogadores e narradores. Um Live Action é, desse ponto de vista (um ponto de vista bem filosófico), uma nova forma de criação, na qual o resultado final é produzido pela soma de todas as nossas mentes, e, portanto, é diferente de teatro, de literatura, etc. Para mim, além de ser um ótimo passatempo, também é quase uma nova forma de arte, a única que verdadeiramente supera as limitações da mentalidade individualista do ser humano (eu avisei que era filosófico).

Na nossa sociedade contemporânea, estamos muito acostumados a enxergar tudo a nossa volta como uma espécie de produto que pode ser comprado ou comercializado. Por isso, às vezes parece que, quando o jogador paga R$10,00 para jogar o live, que está contratando um serviço da Pasárgada Enterprises, mas não é isso. Esse dinheiro é só para cobrir os custos da própria realização do live, e francamente, se essa fosse a nossa fonte de renda, seria melhor arrumar outro emprego.

O Live é uma coisa que é construída em conjunto. É claro que nós, narradores, temos um papel diferenciado, porque cabe a nós arbitrar as situações, promover novas oportunidades de jogo, desenvolver o cenário, etc. Mas os verdadeiros protagonistas disso tudo são os jogadores, e não nós. Muitas vezes a gente nem se diverte com os personagens que interpretamos.

O nosso desafio é diferente do de vocês: o de vocês é um trabalho introspectivo, desenvolver a psiquê do personagem, pensar, respirar (ou não, já que somos vampiros né), agir e sentir como os personagens, e reagir como eles reagiriam às situações que enfrentam. O nosso é elaborar essas situações para vocês e encaminhar o jogo de uma maneira que seja, ao mesmo tempo, desafiadora e recompensatória. Se for desafiadora demais e recompensadora de menos, é difícil obter sucesso e logo se perde o interesse no jogo. Se for desafiadora de menos e recompensadora demais, fica tudo muito fácil e logo o jogo perde a graça. Mas também não é tão simples. Porque muitas vezes, para um jogador ter sucesso outro precisa falhar, etc, e por aí vai.

Por isso, nem sempre é fácil agradar a todo mundo, e diga-se de passagem, é impossível todo mundo ficar feliz ao mesmo tempo. Por isso dá claramente para entender que existam jogadores insatisfeitos.

O que não dá para entender é quando os jogadores começam a pensar que o live é uma coisa NÓS e ELES, que jogadores e narradores são inimigos, que os narradores fazem as coisas para te sacanear, que eles são filhos da puta, etc.

Se a gente aceita crítica? Depende.
Eu prefiro aceitar CONSELHO do que CRÍTICA. Parece um pouco imaturo né? Mas crítica é uma coisa que parte do princípio que você errou, e conselho parte do princípio de que você poderia ter feito melhor (mesmo tendo errado).
Às vezes, nós, narradores, também precisamos nos sentir motivados. O live, para acontecer, não depende só dos narradores motivarem os jogadores, mas os jogadores motivarem os narradores também, e eu já vir vários lives bons acabarem ou quase acabarem porque os narradores perderam a satisfação que tinham fazendo o live.

Agora, RECLAMAÇÃO, então, essa eu não gosto mesmo de receber. Porque reclamação é uma coisa que só acontece quando alguém tá devendo algo para alguém, e aqui nesse live ninguém deve nada para ninguém. Nem narradores nem jogadores. Ninguém tá prestando serviço aqui. Quando você está fazendo um trabalho em grupo na escola, pode haver debate, discussão, até briga. Mas ninguém têm mais ou menos obrigação de trabalhar direito, afinal é um trabalho em grupo.

Esse live é construído em conjunto, cada um dá quanto pode e recebe quanto precisa pra poder jogar. Tem gente com mais tempo livre, gente com menos, gente com mais experiência de jogo, gente com menos. Tem gente com carro que dá carona e gente que precisa ser buscado onde está para conseguir chegar. Tem gente que empresta o salão do prédio para que todos os outros possam jogar e tem gente que não tem dinheiro para pagar o live, mas mesmo assim sempre pôde jogar conosco. É assim que funciona, só dá certo se a coisa é feita em grupo.

Mas RECLAMAÇÃO OFENSIVA, ah, essa não dá pra engulir. Alguém aí já foi mau-educado com a mãe porque queimou o arroz? Ou com o filho porque foi mal na prova? A gente pode não gostar, mas somos um grupo e temos que nos tratar como um grupo.

Não pode ter NÓS e ELES aqui.

Se tiver, é o primeiro passo pro fim do live.

E sim, às vezes a gente também fica chateado, isso não é monopólio dos jogadores."

Alexandre Hepner
Head Storyteller do Pasárgada Live Action
São Paulo
www.pasargada-darkages.kit.net

"Conscientização e Treinamento" da Polícia com Capoeira de Angola

Uma resposta aos artigos do Raphael Gomide da Folha, no caderno cotidiano de Domingo, 3 de junho de 2007 – pág. C4 e C5

“Conscientização e treinamento”, foram essas palavras que mais me influenciaram para escrever este artigo. Ao ler os artigos de Raphael Gomide deste domingo (03/06/2007), em especial, a entrevista da folha com o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, passei a imaginar como os policiais no Rio agiriam se tivessem uma bagagem cultural nítida dos tempos coloniais do nosso país.

Se hoje a questão política mais polêmica se situasse entre o gastar dinheiro público com prioridade na segurança ou na educação ou na cultura, eu diria façamos os três ao mesmo tempo: obrigando os quartéis a oferecerem Capoeira de Angola de graça como treinamento para os seus policiais, pois, seria mais prático, mais econômico e mais proativo à sociedade brasileira como um todo!

Eu sou apenas um professor de capoeira numa favela de São Paulo capital e amante da filosofia ocidental, e após mesclar uma bagagem colonial com uma bagagem clássica, as pessoas passam a ver a sociedade brasileira com outros olhos.

O meu treinamento como angoleiro influenciou radicalmente a minha leitura sobre o "guardião ideal" da "cidade ideal" da "República de Platão". Na época, eu via a polícia do nosso país como nada bonita. Aquilo que Platão imaginava, pra mim, era pura utopia e impossível, pois a perseguição e descriminação da minha arte pela polícia, nos tempos em que fora proíbida, ainda ecoam nas canções da minha linhagem.

Se a polícia da primeira república apenas tivesse conscientização e treinamento para lidar com a capoeira que, era recriminada naquela época, talvez o Brasil que conhecemos hoje fosse menos violento. Nós somos, nas nossas raízes, uma cultura afro-índio-brasileira, e a capoeira é um dos nossos maiores tesouros culturais, justamente pela integração dessas nobres raças dos tempos coloniais; negro, índio e branco que mesclavam-se entre si.

Do 13 de Maio de 1888 pra cá, os descendentes da diáspora africana perderam o seu papel como mão de obra principal do nosso país para outras culturas como a italiana e a japonesa, criando assim uma segunda diáspora, dessa vez interna e de efeito colateral desastroso para a população, forçando o negro e seus descendentes à margem da sociedade. Como todos sabem, os enclaves fortificados como mocambos e quilombos, originaram-se da fuga de escravos e criminosos que no início eram apenas índios, depois seguiram para lá os negros e ainda depois criminosos brancos, como por exemplo os holandeses que permaneceram na colônia portuguesa mesmo depois do fim da guerra. Símbolos de resistência, igualdade e liberdade, eles possuíam rituais e tradições de significado profundo, podendo viver em paz com o sempre presente guerreiro das lutas marciais.

A história e o folclore dos capoeiristas oferece uma reserva abundante da nossa cultura afro-índio-brasileira; uma fonte preciosa da nossa sabedoria nacional. E como arte guerreira, não conheço nem uma mais excelente do que aquela que possui o ritual e a tradição da cultura do seu povo como arma máxima nos tempos da paz.

Se o guerreiro ideal se iguala ao “homem perfeito” dos gregos antigos, então o "angoleiro" é o guerreiro ideal brasileiro. A ginástica das acrobacias da luta, a arte da poesia folclórica nos lábios do cantor melódico e a sabedoria popular dos seus mestres e adeptos fazem então do capoeirista, um guardião platônico - se preservados os rituais e a tradição da capoeira. Por outro lado, a capoeira se torna incompleta e desequilibrada sempre que faltar um dos três atributos principais do guardião platônico. E o praticante que faltar um ou mais desses elementos dentro do seu próprio ser, passa a encarar a vida de maneira medíocre e incompleta tambem.

Capoeira: a ginástica da luta marcial que trabalha o corpo; a música que prenche a alma com humanidade; a sabedoria das suas histórias ou o diáogo dos seus mestres. Com estes rituais e sua tradição, a capoeira é completa. Porém, privado deles, seu adepto se transforma no gladiador do coliseu, sabendo apenas como imitar os movimentos do aspecto marcial, sem noção da vida, compreendendo apenas a morte.

Nas guerras brasileiras, o capoeirista sempre esteve presente no campo de batalha como uma máquina letal a matar, e muitas vezes sem quaisquer vestígios de humanidade ou sabedoria, pois haviam excluído dele, o ritual e a tradição que fazem o alicerce de uma cultura pacífica e harmoniosa.

O ritual e tradição são a cola da nossa arte, permitindo ao praticante a conscientizar-se e treinar-se constantemente; conscientização e treinamento fazem parte da vida do angoleiro, todos os dias e todas as noites, trabalhando ou descansando, brincando ou lutando, sempre de prontidão, igualmente nos tempos de paz ou guerra, como a vida assim lhe proporcionar.

“Guardião platônico” deve ser a função dos nossos policiais, os encarregados de guardar a cidade, de servir e proteger, zeladores da justiça. Conhecer a identidade cultural do suposto “criminoso” é a maior tarefa do policial hoje. Um dos tipos de criminosos mais perigosos de todos, senão o mais, é justamente o traficante da favela, cuja história e raíz, estão escritas, nas origens da própria capoeira.

Imagine como uma coisa tão simples poderia mudar a vida dos brasileiros.Bastando ao polical dominar a Capoeira de Angola em todos os seus aspectos marciais, musicais e sócio-culturais, integrando a nossa bagagem colonial no seu treinamento. É o casamento perfeito da educação, cultura e segurança brasileira!

Encontrar mestres, contra-mestres e adeptos qualificados para ensinar Capoeira de Angola na Terra da Garoa, ou mesmo na Cidade Maravilhosa é muito fácil (acha-se até na internet) e tenho fé que aceitariam uma oportunidade como essa para difundir a nossa arte com alegria e esperança.

Ouvir o choro do berimbau no toque de Angola, ecoando dos fundos do quartel da polícia do bairro, o coro bem respondido, o ritual obedecido e através disso, conscientizar e treinar guardiões platônicos ao bem da nossa pátria é ainda hoje um sonho apenas. Se isso é possível ainda nessa geração, apenas com um diálogo poderemos saber. O início deste diálogo é urgente e está em suas mãos, caro leitor:-)

Prf. Índio Branco

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Vida Acadêmica, Sabedoria e Alterando a Realidade

Texto do Noir Moguchaya - Maringá-PR:

O que é a vida acadêmica?

Será que ela acontece fora da sala de aula ou se encerra dentro desse limite? A vida acadêmica, e o que fazemos dela, afeta intimamente tanto o nosso próprio crescimento quanto o da Universidade como um todo. No tempo que passamos na Universidade devemos valorizar o contato com pessoas com os mais diferentes interesses. Mas isso não acontece, sobretudo porque estereotipamos a diferença e, assim, subestimamos seu potencial.

Uma única pessoa é capaz de saber tudo o que é conhecido como faziam os Sábios do Passado?

Pensando melhor, o saber pode significar uma descrição de eventos (informações) com uma explicação dos mesmos. Entender as teorias que explicam de maneira mais abrangente o que a nossa percepção imediata nos apresenta nos faz obter uma nova percepção do mundo. Assim, nossa proposta não se restringe a fazer previsões e coletar dados e sim a uma compreensão da nossa relação com o mundo, um auto-conhecimento. Ascendendo gradativamente dos efeitos às causas, do particular ao geral, do simples ao composto: um único ser humano será capaz de saber a melhor forma de se relacionar com a vida.

Como alterar a nossa realidade?

A todo instante somos atravessados por forças externas advindas do campo etnico-político – podendo ser as condições do trabalho, os vínculos sociais, a filogênese familialista, o campo cultural evolucionista, a faseabilidade – chegando a nosso corpo e, por meio deste, à nossa subjetividade, consciente e inconsciente. E a nós cabe a escolha de ora cristalizar tais forças em valores, e assim somos repetitivos, ou, então, transvalorizá-las, e, pelo nosso desejo, direcionar a criação e potência.

"É essa a finalidade da esquizoanálise: analisar a natureza específica dos investimentos libidinais do econômico e do político; e, por aí, mostrar como o desejo pode ser levado a desejar sua própria repressão no sujeito que deseja."

– O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia, Deleuze & Guattari, págs. 137/8.

Comentário do Mário Lopez:

Acima, está um texto escrito pelo Noir Moguchaya com a finalidade de suscitar um grupo de estudos na sua faculdade em Maringá-PR.

A eloquência do seu estilo altamente intelectualizado demonstra claramente a intensidade da sua "vida acadêmica" atual, além de dar-nos motivos para orgulhar-nos do sucesso da nossa academia brasileira, claramente atingindo os objetivos de formar uma elite intelectual para competir no mercado globalizado
.

São dúvidas, como as dele, e as levando em discussão, que os nossos alunos de faculdade irão se preparar para agir na dinâmica dos grupos de especialistas, cada qual com os seus vocabulários de área. É importantíssimo que o aluno tenha contato com esses outros vocabulários.

Antigamente era obrigado estudar Marx no departamento de Filosofia-USP, hoje, não é mais, mas na época, o Marx também se estudava na Sociais e Economia. Mas o Marx da Economia, o Marx da Sociais e o Marx da Filosofia eram todos o mesmo pensador, só que estudados de abordagens radicalmente diferentes de uma à outra.

Então um aluno da Sociais que fala de Marx para um aluno da Filosofia é bem diferente do que falar de Marx para outro aluno da Sociais. Alunos de áreas diferentes vão sempre precisar "aprender" a linguagem da outra área, mesmo falando do mesmo pensador.

E é dessa instituição de troca de linguagens que a ditadura brasileira sempre se sentiu ameaçado, tentando, durante anos, controlá-la de forma opressiva.

Uma entrevista da rádio americano Science Friday com convidado Prof. Dr. Jonathan Kandell da Universidade de Maryland colocou em dúvida a ameaça dessa instituição acadêmica com o avanço de bate-papos, jogos online e internet do tal vício pela internet ou "Internet Addiction."

Em um momento, o próprio Kandell disse assim: "Eu não estou querendo incentivar o uso de maconha, mas pelo menos os alunos estão fumando em grupo! Algo que não acontece com os viciados na Internet!"

Uma outra tradição da academia brasileira para ressaltar pode ser exemplificado na tese de mestrado da Jacira de Freitas Rosa pela FFLCH-USP "Política e festa popular em Rousseau : a recusa da representação" de Dezembro de 1997.


Quando ameaçado a festa popular dos estudantes, também está ameaçado o espaço físico de diálogo universitário (como fazia com a política de opressão do movimento estudantil e o tema "não a bebidas" por exemplo).

Segundo Kandell, apenas 30% da aprendizagem ocorre dentro da sala de aula e no laboratório, os outros 70% ocorrem nos corredores, nas praças, no estacionamento, nos pontos de ónibus, nos ónibus que pegam vias universitárias, no bandejão, nas repúblicas, nos conjuntos residenciais e nas festas. Enfim, no espaço físico aonde possa ocorrer um diálogo interdisciplinar.

O projeto do Rentato Janine Ribeiro por exemplo "Projeto de curso experimental de graduação interdisciplinar em humanidades" foi acusado de "elitismo" e praticamente descartado.

Isso merece um desabafo de fatos sobre o movimento estudantil no campus da USP-SP:

O bandejão central da USP-SP passou anos sem café da manhã. O bandejão da Química-USP foi desativado para reformas durante anos. O bloco E do CRUSP foi desativado para reformas durante anos. A reitoria antiga passou anos vazio enquanto blocos K e L do CRUSP foram "ocupados" pela reitoria, bloco H foi demolido. A FFLCH e FEA estão fisicamente localizados em lugares diferentes hoje (já compartilharam o mesmo pátio). As entradas da Quimica-USP do lado da escada da FFLCH andaram fechadas quantos anos? O DCE-USP andou sob reforme durante um tempo absurdo.
A tentativa de levantar um grupo de estudos com RPG e Educaçaõ no CRUSP "Teatro da Imaginação" foi enterrado no departamento de Cultura e Extensão da Reitoria-USP em 2003. E não há uma única rua na USP-SP que não passa um tanque de guerra!

Coincidências? Ou repressão do movimento estudantil? Sempre que aparecer um indivíduo como Noir Moguchaya, com vontade, coragem e a garra de correr atrás das nossas tradições de criar um diálogo maior, esse indivíduo merece aplausos! Porque ele luta pelos ideais da nossa bandeira nacional! Ordem e Progresso! Parabéns Noir Moguchaya!

E encerra-se essa entrada com a carinhosa canção de Geraldo Vandré - "Para Não Dizer que Não Falei das Flores."

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Mercado de Previsão

O que é o mercado de previsão?

Um mercado de previsão (ou previsões) é um mecanismo de preços usado para prever o futuro com estatísticas, colhendo toda a informação disponível num determinado grupo de pessoas (participantes) e agregando (redistribuindo) essas informações “instantaneamente” através do corpo organizacional (os participantes), com o intuito de melhor tomar decisões sobre o futuro; gerando assim, uma organização espontânea movida à base dos interesses particulares de cada um.

O mercado de previsão na sua manifestação virtual é um fenômeno relativamente novo, que surge com o aumento na popularidade dos computadores e informática.

Pesquisado principalmente pelos acadêmicos americanos de economia como os do Iowa Electronic Market (Mercado Eletrônico de Iowa) que é um dos mais antigos mercados de previsões do mundo, usado pela primeira vez nas eleições presidenciais americanas de 1988.

O uso dos mercados de previsões na área de administração e planejamento estratégico para empresariais é certamente o mais comum, como por exemplo o mercado de previsão do Google que tem mais que mil participantes na atualidade.

O mercado de previsão também vem sendo utilizado por governantes para melhor adequar decisões que afetam tais áreas como saneamento básico, como é do exemplo do governo de Singapura com seu projeto e pesquisa “The Singapore Water Reclamation Study” de recuperação das águas de esgoto com a tecnologia NEWater (água nova).

A teoria epistemológica mais aceita sobre o “por quê?” do funcionamento desse fenômeno se explica nos muitos textos do filósofo da ciência e economista, Friedrich Hayek que utilizou o termo catallaxy:

“Um sistema de auto-organização de cooperação voluntária.” – Hayek, The Use of Knowledge in Society

De acordo com Hayek, “catallaxy” ou em português “catalaxia” καταλλάξια (Katallaxia) do verbo katallasso (καταλλάσσω) que significava não apenas “trocar” mas também “admitir na comunidade” ou “transformar inimigo em amigo” era o fenômeno responsável pelo funcionamento dos mecanismos de preço como a bolsa de valores (estilo Bovespa).

Usando os trabalhos de pensadores como Descartes (Método), Adam Smith, Mises e muitos outros, Hayek argumentava que a troca eficiente e uso de recursos podia se manter apenas através de um mecanismo de preços num mercado livre e qualquer tentativa de centralização ou controle centralizado desse mercado levará rumo a totalitarismo (exemplificado na política da Alemanha Nazista que Hayek presenciou).

Um mercado de previsões básico funciona como um mercado comum aonde os participantes podem comprar, vender ou trocar ações amarradas ao acontecimento de determinado futuro.

Quem compra baixo e vende alto é recompensado, enquanto as pessoas que compram alto e vendem baixo são punidas pois; apenas as respostas corretas, “depois do fato ocorrer” serão recompensadas, as incorretas perderão tudo.

Um dos mercados de previsão mais pioneiros da comunidade Web 2.0 é StrategyPage.Com que é facilmente navegado e visualmente informativo.

Como as análises mostram com cada vez mais freqüência que o mercado de previsão é superior aos nossos modos tradicionais de tomar decisões, como no estilo das leis do Sun Tzu no seu famoso tratado A Arte da Guerra, certos pesquisadores como o Robin Hanson por exemplo vem lançando até novas palavras no ar, como o tal de Futarchy ou Futarquia, um sistema de governo que utiliza um mercado de previsões para criar leis.

O fator mais interessante sobre os mercados de previsão hoje, talvez seja como eles se tornaram mania ou “onda” do movimento Web 2.0 nos Estados Unidos; espalhando-se entre o corpo da população de classe média como “fato, aceito” com muito mais velocidade que tradicionalmente visto na área das tecnologias experimentais.

Essa grande velocidade talvez sugere uma influência da própria natureza de OutSourcing ou Web 2.0 que incentiva a catalaxia do livre-intercâmbio de serviços, produtos, pessoas e informações ao redor do mundo globalizado.

Para quem já estudou a história das revoluções científicas, talvez parece que estamos prestes a mudar de paradigma sobre como fazer política, optando para eliminar a retórica da democracia de uma vez por todas pela preferência por um mecanismo de preços que demonstra estatísticas como no caso do mercado de previsão, e quem consegue argumentar com uma estatística?

As sugestões do Robin Hanson parecem bastante utópicas, mesmo para quem já viu as estatísticas, mas valem de uma lógica que seria difícil debater, e o Brasil ainda nem ouviu falar no fenômeno “mercado de previsão.”

No hora dessa publicação, os resultados pelas frases chaves com aspas “mercado de previsão” (Google.Com.Br) e “prediction market” (Google.Com) revelaram apenas 9 resultados para Google.Com.Br e 278.000 Google.Com.

Os nove URL’s para a pesquisa "mercado de previsão" no Google.Com.Br na hora dessa publicação foram:
1. noticias.uol.com.br/midiaglobal/freakonomics/2007/07/12/ult3431u32.jhtm
2. agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/33734.html
3. pt.csmauto.com/about/leadership-team
4. www.dac.unicamp.br/sistemas/catalogos/grad/catalogo2005/cursos/cur39.html
5. https://www.sistemas.unicamp.br/ensino/catalogo/CATAG09.HTM
6. www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2007000100004&lng=enenandothers&nrm=iso
7. economiaeverywhere.blogspot.com/2003_10_19_archive.html
8. www.biblioteca.unesp.br/bibliotecadigital/document/?view=3363
9. volpi.ea.ufrgs.br/teses_e_dissertacoes/td/000912.pdf


O que isso demonstra sobre esse fenômeno? É possível colocar aqui nessa página toda a informação brasileira sobre mercados de previsão disponíveis na internet na hora dessa publicação e dos americanos seria impossível? Certamente sim.

Mas, talvez existem muito menos brasileiros publicando material online sobre esses mercados de previsão do que americanos? Por quê? Por que que são os americanos os dominadores dessa tecnologia de ponta na atualidade, e por que o nosso país demonstra tanta resistência quanto a uma idéia tão lucrativa? Poderia ser o vigor das leis dos nossos policais federais em expulsar os americanos e outros estrangeiros do primeiro mundo do nosso solo mais gentil? Mais, quanto tempo vai demorar até que essa idéia explodir numa onda no nosso mercado virtual, ou nem vai? Ou ainda, se tornar uma opção “obvia” para nossos militares, policiais (a tal de wikipédia policial brasileiro), políticos ou governo?

Fontes:
http://www.biz.uiowa.edu/iem/about/
http://googleblog.blogspot.com/2005/09/putting-crowd-wisdom-to-work.html
http://inklingmarkets.com/
http://www.pub.gov.sg/NEWater_files/overview/index.html
http://www.econlib.org/library/Essays/hykKnw1.html
Hayek, F.A. Law, Legislation, and Liberty, Vol. 2. 1976. pp. 108-109. veja tambem p. 185n4 disponível na biblioteca de Filosofia da USP; FFLCH /320.1^H417l^v.2 ou online: http://www.amazon.com/Law-Legislation-Liberty-Mirage-Justice/dp/0226320839
http://www.strategypage.com/prediction_market/default.asp
http://hanson.gmu.edu/futarchy.html

Uma Academia de Filosofia

Estou chamando esse blog de "O Liceu" em homenagem à famosa academia da Antigüidade do mesmo nome aonde destacaram grandes pensadores da nossa história ocidental. Aqui pretendo escrever artigos relevantes aos diversos temas do meu interesse, sempre com um olho voltado para minha área, História do Pensamento Ocidental. Estudei no departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo "intensamente" de Janeiro de 2000 até Novembro de 2003, concluindo os meus estudos gerais no final de 2004; depois disso passando a empenhar-me na área de Filosofia da Ciência.

Meus estudos focados de 2004 até Setembro de 2007 incluiram as áreas de:

Ciências de Sustentabilidade, Metodologia Científica na área Médica, Psychoneuroimunologia, Ciência Cognitiva, Sonhos Lúcidos, Friedrich Hayek, Catallaxy, Prediction Markets (Mercados de Previsão), RPG na Educação e Capoeiragem.

Na medida do possível, pretendo manter esse blog na nossa língua portuguêsa. As minhas bibliografias porém podem vier de diversas línguas, principalmente da língua inglesa, nestes casos, procurarei versões traduzidas quando possível, sempre a incluir o texto original.


Estabeleço esse blog na nossa língua portuguêsa como uma forma de agregar informações
que muitas vezes apenas podem ser encontradas "presas" em outros idiomas como principalmente a língua inglêsa, atualmente dominante na Internet.

Disseminando assim conceitos, idéias, noções ou especulações diversas, que são de difícil acesso para nossa "população virtual," limitada à língua oficial da nossa pátria e as restrições socio-políticas da mesma.


Na data e hora dessa publicação por exemplo, a frase chave "mercado de previsão" deu apenas 9 resultados no Google.Com.br enquanto a frase chave "prediction market" deu 2.400.000 resultados no Google.Com.


Na memsa hora, uma pesquisa no Google.Com para a frase "lucid dreams" revelou 2.220.000 resultados enquanto uma pesquisa no Google.Com.br para a frase "sonhos lúcidos" revelou apenas 190.000 resultados.


Essa "desigualdade" virtual é algo que merece a atenção dos pesquisadores, sem dúvida, ainda mais os pesquisadores de fênomenos como organisação espontânea, open sourcing, web 2.0 ou mesmo a poderosa força da agregação "virtual" de productos, serviços ou informações entre os membros de uma população.


Mas não é para ficar confinado no laboratório, disponível apenas numa biblioteca ou universidade estadual. Esse é o tipo de pesquisa que rende melhores resultados quando acessível a uma gama maior de indivíduos interessados com voz.


Dessa forma, procuro disseminar conhecimentos de domínio estrangeiro ou acadêmico de forma mais acessível, mais rapidamente e talvez mesmo "mais popular" através do nosso coletivo do idioma português e o fenômeno de Catallaxia que é Web 2.0.br;-)