quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Inspiração e Criatividade do Rpgista...

Conversando com um Mestre de D&D Medival, com seu próprio mundo de RPG, voltado para educação, Trinômia, do Leonardo Antunes, ele revela o seu segredo para alcançar um nível máximo de inspiração e criatividade, sempre que for necessário.

Inspiração e Criatividade do RPGista...
Ah, aos 15, 16 anos era basicamente aquele devaneio adolescente, sonhando com o amor ideal, deixando-se levar pelo vento, o cheiro da chuva, o vinho e o mundo dos sonhos.

Depois, aos 17, era também uma inquietação filosófica. Aquele desejo de entender o engenho do mundo e fazer-se senhor de todo o conhecimento acumulado por milênios.

Leituras compulsivas e textos aludindo a autores póstumos em diálogos forjados.

E também uma necessidade de produzir a maior quantidade de texto no menor tempo possível, para se igualar aos ídolos do passado.

Provar-se para si mesmo e para os outros.

Uma cena típica dos 17 foi eu conversando no MSN com minha futura namorada enquanto escrevia freneticamente um poema para lhe pedir em namoro.

Precisava acabar logo, porque ela estava para sair e eu não aguentava ficar um dia mais sem dizer para ela que precisava dela.

Aquela angústia desmedida e o peito dilacerado por dúvidas e incertezas.

Foi esse poeminha aqui.

O poema é tão fraco e débil quanto a minha própria experiência e auto-confiança era naquela época. haha

Mas é um resquício daquela época cheia de magia.


Veja mais do Leonardo Antunes:
http://www.eugraphia.com.br/index.html

domingo, 20 de janeiro de 2008

Filosofia de Meia-Tigela

Tive a felicidade de conhecer esse narrdor de LARP de Vampiro: à Máscara e Idade das Trevas, antes mesmo dele entrar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo por volta do ano 2000 quando começaram os primeiros Live Actions do seu grupo Passargada. Com o passar do tempo, o seu pensamento sobre RPG foi madurecendo, como todos nos, mas segue aqui um exemplo perfeito de pelo menos sete anos de experiência, de alguem que nunca desistiu da nossa arte, mesmo adiante de uma faculdade tão estressante como a USP. Essa carta veio pela Lista de Discussão em OFF do Passargada no finalzinho de 2006, e demonstra claramente muitas das mesmas dificuldades que tivemos que superar em Mogi Guaçu durante as realizações Triunvirato; Unidos, venceremos:-)

"Eu queria não ter que me envolver nessa discussão mas vejo que será necessário antes que ela comece a tomar proporções indesejadas.

Esta mensagem não é para colocar "panos quentes", mas sim para trazer uma reflexão, e eu gostaria que os jogadores pensassem um pouco no assunto para ver se conseguimos mudar a postura de todos em relação ao live - a nossa e a de vocês.

Quando preparamos a história, ajudamos na montagem dos personagens, narramos as cenas - enfim, tocamos o Live para a frente - fazemos isso não para satisfazer nossas vontades de "controlar" o destino das coisas. Se fosse só esse o nosso objetivo, a gente escrevia um livro e publicava, que iria dar mais dinheiro.

O objetivo também não é combater a nossa baixa auto-estima (no caso dos narradores "bonzinhos" e "manipuláveis") nem satisfazer o nosso orgulho próprio (no caso dos narradores "malvados" e "manipuladores") (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência). Se fosse esse, o Pasárgada seria um live em que os narradores têm personagens mega-fodônicos e ficam competindo entre si para ver quem joga melhor, enquanto a maioria dos jogadores são meros apêndices de um jogo muito menos articulado.

Ao invés disso, a gente sempre tentou montar um live, na qual o resultado final, é uma CONSTRUÇÃO, que é realizada EM CONJUNTO entre jogadores e narradores. Um Live Action é, desse ponto de vista (um ponto de vista bem filosófico), uma nova forma de criação, na qual o resultado final é produzido pela soma de todas as nossas mentes, e, portanto, é diferente de teatro, de literatura, etc. Para mim, além de ser um ótimo passatempo, também é quase uma nova forma de arte, a única que verdadeiramente supera as limitações da mentalidade individualista do ser humano (eu avisei que era filosófico).

Na nossa sociedade contemporânea, estamos muito acostumados a enxergar tudo a nossa volta como uma espécie de produto que pode ser comprado ou comercializado. Por isso, às vezes parece que, quando o jogador paga R$10,00 para jogar o live, que está contratando um serviço da Pasárgada Enterprises, mas não é isso. Esse dinheiro é só para cobrir os custos da própria realização do live, e francamente, se essa fosse a nossa fonte de renda, seria melhor arrumar outro emprego.

O Live é uma coisa que é construída em conjunto. É claro que nós, narradores, temos um papel diferenciado, porque cabe a nós arbitrar as situações, promover novas oportunidades de jogo, desenvolver o cenário, etc. Mas os verdadeiros protagonistas disso tudo são os jogadores, e não nós. Muitas vezes a gente nem se diverte com os personagens que interpretamos.

O nosso desafio é diferente do de vocês: o de vocês é um trabalho introspectivo, desenvolver a psiquê do personagem, pensar, respirar (ou não, já que somos vampiros né), agir e sentir como os personagens, e reagir como eles reagiriam às situações que enfrentam. O nosso é elaborar essas situações para vocês e encaminhar o jogo de uma maneira que seja, ao mesmo tempo, desafiadora e recompensatória. Se for desafiadora demais e recompensadora de menos, é difícil obter sucesso e logo se perde o interesse no jogo. Se for desafiadora de menos e recompensadora demais, fica tudo muito fácil e logo o jogo perde a graça. Mas também não é tão simples. Porque muitas vezes, para um jogador ter sucesso outro precisa falhar, etc, e por aí vai.

Por isso, nem sempre é fácil agradar a todo mundo, e diga-se de passagem, é impossível todo mundo ficar feliz ao mesmo tempo. Por isso dá claramente para entender que existam jogadores insatisfeitos.

O que não dá para entender é quando os jogadores começam a pensar que o live é uma coisa NÓS e ELES, que jogadores e narradores são inimigos, que os narradores fazem as coisas para te sacanear, que eles são filhos da puta, etc.

Se a gente aceita crítica? Depende.
Eu prefiro aceitar CONSELHO do que CRÍTICA. Parece um pouco imaturo né? Mas crítica é uma coisa que parte do princípio que você errou, e conselho parte do princípio de que você poderia ter feito melhor (mesmo tendo errado).
Às vezes, nós, narradores, também precisamos nos sentir motivados. O live, para acontecer, não depende só dos narradores motivarem os jogadores, mas os jogadores motivarem os narradores também, e eu já vir vários lives bons acabarem ou quase acabarem porque os narradores perderam a satisfação que tinham fazendo o live.

Agora, RECLAMAÇÃO, então, essa eu não gosto mesmo de receber. Porque reclamação é uma coisa que só acontece quando alguém tá devendo algo para alguém, e aqui nesse live ninguém deve nada para ninguém. Nem narradores nem jogadores. Ninguém tá prestando serviço aqui. Quando você está fazendo um trabalho em grupo na escola, pode haver debate, discussão, até briga. Mas ninguém têm mais ou menos obrigação de trabalhar direito, afinal é um trabalho em grupo.

Esse live é construído em conjunto, cada um dá quanto pode e recebe quanto precisa pra poder jogar. Tem gente com mais tempo livre, gente com menos, gente com mais experiência de jogo, gente com menos. Tem gente com carro que dá carona e gente que precisa ser buscado onde está para conseguir chegar. Tem gente que empresta o salão do prédio para que todos os outros possam jogar e tem gente que não tem dinheiro para pagar o live, mas mesmo assim sempre pôde jogar conosco. É assim que funciona, só dá certo se a coisa é feita em grupo.

Mas RECLAMAÇÃO OFENSIVA, ah, essa não dá pra engulir. Alguém aí já foi mau-educado com a mãe porque queimou o arroz? Ou com o filho porque foi mal na prova? A gente pode não gostar, mas somos um grupo e temos que nos tratar como um grupo.

Não pode ter NÓS e ELES aqui.

Se tiver, é o primeiro passo pro fim do live.

E sim, às vezes a gente também fica chateado, isso não é monopólio dos jogadores."

Alexandre Hepner
Head Storyteller do Pasárgada Live Action
São Paulo
www.pasargada-darkages.kit.net

"Conscientização e Treinamento" da Polícia com Capoeira de Angola

Uma resposta aos artigos do Raphael Gomide da Folha, no caderno cotidiano de Domingo, 3 de junho de 2007 – pág. C4 e C5

“Conscientização e treinamento”, foram essas palavras que mais me influenciaram para escrever este artigo. Ao ler os artigos de Raphael Gomide deste domingo (03/06/2007), em especial, a entrevista da folha com o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, passei a imaginar como os policiais no Rio agiriam se tivessem uma bagagem cultural nítida dos tempos coloniais do nosso país.

Se hoje a questão política mais polêmica se situasse entre o gastar dinheiro público com prioridade na segurança ou na educação ou na cultura, eu diria façamos os três ao mesmo tempo: obrigando os quartéis a oferecerem Capoeira de Angola de graça como treinamento para os seus policiais, pois, seria mais prático, mais econômico e mais proativo à sociedade brasileira como um todo!

Eu sou apenas um professor de capoeira numa favela de São Paulo capital e amante da filosofia ocidental, e após mesclar uma bagagem colonial com uma bagagem clássica, as pessoas passam a ver a sociedade brasileira com outros olhos.

O meu treinamento como angoleiro influenciou radicalmente a minha leitura sobre o "guardião ideal" da "cidade ideal" da "República de Platão". Na época, eu via a polícia do nosso país como nada bonita. Aquilo que Platão imaginava, pra mim, era pura utopia e impossível, pois a perseguição e descriminação da minha arte pela polícia, nos tempos em que fora proíbida, ainda ecoam nas canções da minha linhagem.

Se a polícia da primeira república apenas tivesse conscientização e treinamento para lidar com a capoeira que, era recriminada naquela época, talvez o Brasil que conhecemos hoje fosse menos violento. Nós somos, nas nossas raízes, uma cultura afro-índio-brasileira, e a capoeira é um dos nossos maiores tesouros culturais, justamente pela integração dessas nobres raças dos tempos coloniais; negro, índio e branco que mesclavam-se entre si.

Do 13 de Maio de 1888 pra cá, os descendentes da diáspora africana perderam o seu papel como mão de obra principal do nosso país para outras culturas como a italiana e a japonesa, criando assim uma segunda diáspora, dessa vez interna e de efeito colateral desastroso para a população, forçando o negro e seus descendentes à margem da sociedade. Como todos sabem, os enclaves fortificados como mocambos e quilombos, originaram-se da fuga de escravos e criminosos que no início eram apenas índios, depois seguiram para lá os negros e ainda depois criminosos brancos, como por exemplo os holandeses que permaneceram na colônia portuguesa mesmo depois do fim da guerra. Símbolos de resistência, igualdade e liberdade, eles possuíam rituais e tradições de significado profundo, podendo viver em paz com o sempre presente guerreiro das lutas marciais.

A história e o folclore dos capoeiristas oferece uma reserva abundante da nossa cultura afro-índio-brasileira; uma fonte preciosa da nossa sabedoria nacional. E como arte guerreira, não conheço nem uma mais excelente do que aquela que possui o ritual e a tradição da cultura do seu povo como arma máxima nos tempos da paz.

Se o guerreiro ideal se iguala ao “homem perfeito” dos gregos antigos, então o "angoleiro" é o guerreiro ideal brasileiro. A ginástica das acrobacias da luta, a arte da poesia folclórica nos lábios do cantor melódico e a sabedoria popular dos seus mestres e adeptos fazem então do capoeirista, um guardião platônico - se preservados os rituais e a tradição da capoeira. Por outro lado, a capoeira se torna incompleta e desequilibrada sempre que faltar um dos três atributos principais do guardião platônico. E o praticante que faltar um ou mais desses elementos dentro do seu próprio ser, passa a encarar a vida de maneira medíocre e incompleta tambem.

Capoeira: a ginástica da luta marcial que trabalha o corpo; a música que prenche a alma com humanidade; a sabedoria das suas histórias ou o diáogo dos seus mestres. Com estes rituais e sua tradição, a capoeira é completa. Porém, privado deles, seu adepto se transforma no gladiador do coliseu, sabendo apenas como imitar os movimentos do aspecto marcial, sem noção da vida, compreendendo apenas a morte.

Nas guerras brasileiras, o capoeirista sempre esteve presente no campo de batalha como uma máquina letal a matar, e muitas vezes sem quaisquer vestígios de humanidade ou sabedoria, pois haviam excluído dele, o ritual e a tradição que fazem o alicerce de uma cultura pacífica e harmoniosa.

O ritual e tradição são a cola da nossa arte, permitindo ao praticante a conscientizar-se e treinar-se constantemente; conscientização e treinamento fazem parte da vida do angoleiro, todos os dias e todas as noites, trabalhando ou descansando, brincando ou lutando, sempre de prontidão, igualmente nos tempos de paz ou guerra, como a vida assim lhe proporcionar.

“Guardião platônico” deve ser a função dos nossos policiais, os encarregados de guardar a cidade, de servir e proteger, zeladores da justiça. Conhecer a identidade cultural do suposto “criminoso” é a maior tarefa do policial hoje. Um dos tipos de criminosos mais perigosos de todos, senão o mais, é justamente o traficante da favela, cuja história e raíz, estão escritas, nas origens da própria capoeira.

Imagine como uma coisa tão simples poderia mudar a vida dos brasileiros.Bastando ao polical dominar a Capoeira de Angola em todos os seus aspectos marciais, musicais e sócio-culturais, integrando a nossa bagagem colonial no seu treinamento. É o casamento perfeito da educação, cultura e segurança brasileira!

Encontrar mestres, contra-mestres e adeptos qualificados para ensinar Capoeira de Angola na Terra da Garoa, ou mesmo na Cidade Maravilhosa é muito fácil (acha-se até na internet) e tenho fé que aceitariam uma oportunidade como essa para difundir a nossa arte com alegria e esperança.

Ouvir o choro do berimbau no toque de Angola, ecoando dos fundos do quartel da polícia do bairro, o coro bem respondido, o ritual obedecido e através disso, conscientizar e treinar guardiões platônicos ao bem da nossa pátria é ainda hoje um sonho apenas. Se isso é possível ainda nessa geração, apenas com um diálogo poderemos saber. O início deste diálogo é urgente e está em suas mãos, caro leitor:-)

Prf. Índio Branco