domingo, 20 de janeiro de 2008

"Conscientização e Treinamento" da Polícia com Capoeira de Angola

Uma resposta aos artigos do Raphael Gomide da Folha, no caderno cotidiano de Domingo, 3 de junho de 2007 – pág. C4 e C5

“Conscientização e treinamento”, foram essas palavras que mais me influenciaram para escrever este artigo. Ao ler os artigos de Raphael Gomide deste domingo (03/06/2007), em especial, a entrevista da folha com o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, passei a imaginar como os policiais no Rio agiriam se tivessem uma bagagem cultural nítida dos tempos coloniais do nosso país.

Se hoje a questão política mais polêmica se situasse entre o gastar dinheiro público com prioridade na segurança ou na educação ou na cultura, eu diria façamos os três ao mesmo tempo: obrigando os quartéis a oferecerem Capoeira de Angola de graça como treinamento para os seus policiais, pois, seria mais prático, mais econômico e mais proativo à sociedade brasileira como um todo!

Eu sou apenas um professor de capoeira numa favela de São Paulo capital e amante da filosofia ocidental, e após mesclar uma bagagem colonial com uma bagagem clássica, as pessoas passam a ver a sociedade brasileira com outros olhos.

O meu treinamento como angoleiro influenciou radicalmente a minha leitura sobre o "guardião ideal" da "cidade ideal" da "República de Platão". Na época, eu via a polícia do nosso país como nada bonita. Aquilo que Platão imaginava, pra mim, era pura utopia e impossível, pois a perseguição e descriminação da minha arte pela polícia, nos tempos em que fora proíbida, ainda ecoam nas canções da minha linhagem.

Se a polícia da primeira república apenas tivesse conscientização e treinamento para lidar com a capoeira que, era recriminada naquela época, talvez o Brasil que conhecemos hoje fosse menos violento. Nós somos, nas nossas raízes, uma cultura afro-índio-brasileira, e a capoeira é um dos nossos maiores tesouros culturais, justamente pela integração dessas nobres raças dos tempos coloniais; negro, índio e branco que mesclavam-se entre si.

Do 13 de Maio de 1888 pra cá, os descendentes da diáspora africana perderam o seu papel como mão de obra principal do nosso país para outras culturas como a italiana e a japonesa, criando assim uma segunda diáspora, dessa vez interna e de efeito colateral desastroso para a população, forçando o negro e seus descendentes à margem da sociedade. Como todos sabem, os enclaves fortificados como mocambos e quilombos, originaram-se da fuga de escravos e criminosos que no início eram apenas índios, depois seguiram para lá os negros e ainda depois criminosos brancos, como por exemplo os holandeses que permaneceram na colônia portuguesa mesmo depois do fim da guerra. Símbolos de resistência, igualdade e liberdade, eles possuíam rituais e tradições de significado profundo, podendo viver em paz com o sempre presente guerreiro das lutas marciais.

A história e o folclore dos capoeiristas oferece uma reserva abundante da nossa cultura afro-índio-brasileira; uma fonte preciosa da nossa sabedoria nacional. E como arte guerreira, não conheço nem uma mais excelente do que aquela que possui o ritual e a tradição da cultura do seu povo como arma máxima nos tempos da paz.

Se o guerreiro ideal se iguala ao “homem perfeito” dos gregos antigos, então o "angoleiro" é o guerreiro ideal brasileiro. A ginástica das acrobacias da luta, a arte da poesia folclórica nos lábios do cantor melódico e a sabedoria popular dos seus mestres e adeptos fazem então do capoeirista, um guardião platônico - se preservados os rituais e a tradição da capoeira. Por outro lado, a capoeira se torna incompleta e desequilibrada sempre que faltar um dos três atributos principais do guardião platônico. E o praticante que faltar um ou mais desses elementos dentro do seu próprio ser, passa a encarar a vida de maneira medíocre e incompleta tambem.

Capoeira: a ginástica da luta marcial que trabalha o corpo; a música que prenche a alma com humanidade; a sabedoria das suas histórias ou o diáogo dos seus mestres. Com estes rituais e sua tradição, a capoeira é completa. Porém, privado deles, seu adepto se transforma no gladiador do coliseu, sabendo apenas como imitar os movimentos do aspecto marcial, sem noção da vida, compreendendo apenas a morte.

Nas guerras brasileiras, o capoeirista sempre esteve presente no campo de batalha como uma máquina letal a matar, e muitas vezes sem quaisquer vestígios de humanidade ou sabedoria, pois haviam excluído dele, o ritual e a tradição que fazem o alicerce de uma cultura pacífica e harmoniosa.

O ritual e tradição são a cola da nossa arte, permitindo ao praticante a conscientizar-se e treinar-se constantemente; conscientização e treinamento fazem parte da vida do angoleiro, todos os dias e todas as noites, trabalhando ou descansando, brincando ou lutando, sempre de prontidão, igualmente nos tempos de paz ou guerra, como a vida assim lhe proporcionar.

“Guardião platônico” deve ser a função dos nossos policiais, os encarregados de guardar a cidade, de servir e proteger, zeladores da justiça. Conhecer a identidade cultural do suposto “criminoso” é a maior tarefa do policial hoje. Um dos tipos de criminosos mais perigosos de todos, senão o mais, é justamente o traficante da favela, cuja história e raíz, estão escritas, nas origens da própria capoeira.

Imagine como uma coisa tão simples poderia mudar a vida dos brasileiros.Bastando ao polical dominar a Capoeira de Angola em todos os seus aspectos marciais, musicais e sócio-culturais, integrando a nossa bagagem colonial no seu treinamento. É o casamento perfeito da educação, cultura e segurança brasileira!

Encontrar mestres, contra-mestres e adeptos qualificados para ensinar Capoeira de Angola na Terra da Garoa, ou mesmo na Cidade Maravilhosa é muito fácil (acha-se até na internet) e tenho fé que aceitariam uma oportunidade como essa para difundir a nossa arte com alegria e esperança.

Ouvir o choro do berimbau no toque de Angola, ecoando dos fundos do quartel da polícia do bairro, o coro bem respondido, o ritual obedecido e através disso, conscientizar e treinar guardiões platônicos ao bem da nossa pátria é ainda hoje um sonho apenas. Se isso é possível ainda nessa geração, apenas com um diálogo poderemos saber. O início deste diálogo é urgente e está em suas mãos, caro leitor:-)

Prf. Índio Branco

5 comentários:

Anônimo disse...

Tive tempo para colocar aqui os textos originais da Folha de São Paulo que inspiraram esse artigo:

General no Haiti se espanta com mortes no RJ

Confrontos após ocupação da PM no Alemão mataram 17 pessoas em um mês; operação da ONU fez 27 vítimas em 3 anos

"São números muito altos, Nossa Senhora, é um índice bem alto", afirma Carlos Alberto dos Santos Cruz, ao ser informado das vítimas

RAPHAEL GOMIDE

DA SUCURSAL DO RIO O número de mortos e feridos nos confrontos entre a Polícia Militar e traficantes do Complexo do Alemão, iniciados há um mês, impressionou o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, comandante militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). Ele está de licença no Brasil e concedeu entrevista à Folha por telefone.

No Haiti desde janeiro, o general, que comanda 7.036 militares de tropas de 18 países representando a ONU, não estava a par dos conflitos no Rio e se surpreendeu quando a reportagem lhe relatou a morte de 17 pessoas (um policial, três inocentes e 13 supostos traficantes, segundo a polícia) e o número de 58 feridos no Complexo do Alemão.

"Nossa, essa realidade...Não sabia que estava nesse pé, é muita coisa! São números muito altos, Nossa Senhora, é um índice bem alto", disse.

Desde o início da missão de Paz, em 1º de junho de 2004, 16 capacetes azuis da ONU já foram mortos por grupos armados, além de três policiais, cinco funcionários civis internacionais e três locais -27 pessoas. A Minustah não informou o número de baixas entre rebeldes e civis no Haiti.

Organizações de direitos humanos, no entanto, afirmam que as mortes de civis no Haiti, em confronto com as tropas da ONU, passam de cem.

A pergunta é de uma lógica militar. Se fosse no Haiti, o Alemão seria uma "zona vermelha", de risco -onde se deve andar de capacete, colete à prova de balas e veículo blindado.

Depois de três anos de missão e muitos combates, os militares da ONU já patrulham em carros abertos Cité Soleil, a antes mais violenta favela da capital, Porto Príncipe, em carros abertos, não mais em blindados, como no início da ação.

As estratégias dos traficantes do Rio se sofisticam e se aproximam daquelas usadas no Haiti, onde ex-militares integram grupos armados. O uso de barricadas com carros, trilhos de trem fincados nas ruas, valas e graxa para impedir o trânsito da polícia são, diz ele, "uma evolução". "A demora faz com que o pessoal [criminoso] crie determinadas adaptações."

A serviço da ONU, Santos Cruz evita analisar a ação da polícia fluminense, que elogia como instituição, e não quer comentar como seria eventual operação do Exército no Rio.

Só diz que os equipamentos para uma operação militar nessas circunstâncias são basicamente os mesmos usados pela PM: blindados, fuzis e helicópteros - "elemento importante"-, com imagens em tempo real de dia ou à noite e "ponte" para comunicações. Mas pede medidas complementares.

Para Santos Cruz, os riscos de "efeitos colaterais" -definição militar para mortes e feridos entre inocentes e destruição de patrimônio- em ações como a da polícia só podem ser evitados com forte conscientização e treinamento da tropa.

"Nisso, as regras de engajamento ajudam muito, e o treinamento é fundamental. Conscientização e treinamento -é preciso massificar as idéias e treinar para pôr na cabeça das pessoas e ser cuidadoso. Porque é uma situação difícil para o sujeito, quando a vida está em risco. Se não tiver bem massificada, é um problema."

A Folha esteve no Haiti e acompanhou operações das tropas da ONU. Em março, após dois anos e nove meses de missão, os capacetes azuis tomaram por completo a maior favela de Porto Príncipe, Cité Soleil, 300 mil habitantes.

Os militares cumprem mandato de Paz da ONU e seguem regras de engajamento rígidas, muito mais restritas do que as que utilizariam em uma guerra.

Esses regulamentos, criados para tentar minimizar mortes de civis, prevêem o uso proporcional da força (não utilizar canhões para combater fuzis) e ainda só atirar em pessoas armadas e em alvos claramente identificados. A tropa estava afinada no discurso sobre cautela no uso da força.

Em comboios de até 38 blindados Urutu, com fuzis e protegidos por coletes à prova de balas, apoio de helicópteros e mapas de satélite, os soldados entram nas favelas haitianas, onde participaram de intensos tiroteios com grupos armados. "O grande problema das áreas urbanas são os danos colaterais. Na favela, a população é densa, são casas pequenas, becos estreitos. As forças de segurança estão certas em serem cuidadosas. A população do Alemão [65.026, segundo o IBGE, 130 mil, segundo o governo do Rio] é a de uma pequena cidade. O bandido é covarde por natureza e tira vantagem da presença de inocentes."

No Haiti, o procedimento padrão é, uma vez tomada uma área, estabelecer "pontos-fortes", espécies de quartéis-generais provisórios em locais estratégicos, com predominância militar (pontos de observação privilegiados), de onde saem patrulhas, para evitar a reorganização criminosa.

"É necessário estudar [o uso de pontos-fortes em favelas do Rio]. É uma situação bem diferente no Haiti. A tropa vai lá com a finalidade específica. Se tiver que ficar seis meses naquela posição, vai ficar."

Governo do Rio descarta comparações

DA SUCURSAL DO RIO O secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirma que não é comparável a ação do Exército no Brasil com as tropas da ONU no Haiti.

"Lá, o Exército está pelas leis da ONU [Organização das Nações Unidas], agindo de uma maneira totalmente diferente de como age no Brasil. Esse é o grande diferencial."

Beltrame é contrário à utilização de tropas das Forças Armadas diretamente nas favelas.

Segundo ele, é necessário que a polícia atua exatamente na forma como a legislação atribui suas funções. Sem deixar claro exatamente que medidas o Estado está tomando, o secretário afirma que é necessário realizar um trabalho permanente.

"O militar tem função constitucional. Polícia é obrigação e dever do Estado. A Polícia Civil, a parte judiciária. A Militar, a ostensiva. Temos problemas. É inegável, o nosso baixo efetivo. (...) Não é pensar numa ação de guerra, bélica. Temos que pensar primeiramente na questão institucional e legal", disse o secretário.

Beltrame defende que as Forças Armadas atuem em vias expressas, onde criminosos costumam fazer bloqueios, e áreas próximas de quartéis no Rio.

O secretário afirma que tem uma estratégia de atuação para a crise.

"Temos que agir em todas as frentes de segurança pública, a curto prazo, a médio prazo e a longo prazo. A longo prazo seriam as medidas estruturais. A médio prazo, a consolidação de um serviço de inteligência e de integração entre as polícias. A curto prazo, aqui e agora, é buscar a ostensividade. Isso estamos fazendo diariamente. (...) As grandes ações que pretendemos são a consolidação das ações de médio e longo prazos porque entendemos que a população não pode mais esperar. (...) Por isso, temos que agir hoje multiplicando as ações da Polícia Militar no que diz respeito à ostensividade, enquanto tentamos alcançar nosso projeto de longo prazo", disse o secretário.

Pesquisadores defendem polícia e "cidadania"

DA SUCURSAL DO RIO Especialistas em segurança dizem que os confrontos e a violência entre policiais e traficantes só serão resolvidos com um "banho de cidadania".

O diretor de Estudos de Segurança do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ronaldo Leão, defende a estratégia de confronto adotada pela Secretaria de Segurança no Complexo do Alemão como correta e necessária. Porém, diz que deve ser aplicada em todas as favelas da cidade e seguida de intensas ações do Estado.

A pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Leonarda Musumeci, concorda com o que chama de "invasão social" e acrescenta a necessidade de agregar ações focadas nos jovens, "os que mais correm riscos de morrer ou virar traficantes". Ela critica, porém, o emprego policial-militar tão intenso.

Para ambos, uma política agressiva e de repressão só terá efeito se aplicada a favelas ao mesmo tempo, unida a ações sociais. "É a única maneira de impedir que os traficantes voltem. A polícia é parte da garantia da cidadania. Tem de estar tudo junto, senão os médicos e as escolas ficam entregues à boa-vontade do bandido da hora", disse Leão, para quem a PM não tem hoje os meios (equipamento e pessoal) para a tarefa.

"Como ratos"

Para Leão, o Rio está perdendo território e a população está "aglomerada como ratos". "Hoje quase 20% [18,6%, segundo o IBGE] da população está em favelas, que ocupam em 2% do território [3,5%, segundo o Instituto Pereira Passos]", disse.

Para ele, "não há outra saída senão a estratégia de reocupação de território" por meio do confronto direto com o crime.

Ele defendeu o uso no Alemão de 8.000 policiais e militares das Forças Armadas -que cercariam o local e dariam proteção a pessoal civil. Na avaliação do pesquisador, a infiltração deve ser feita pela polícia, não pelas Forças Armadas.

"Mesmo assim, para liberar a comunidade do crime de modo definitivo, significa no mínimo 60, 90 dias de operação."

Leonarda diz que os "efeitos colaterais" de uma ação como essa são "em nível tal que indicam que o custo-benefício não está sendo compensador". Ela é favorável a "intervenções pontuais, mas como algo excepcional, não como um modelo e base da política de segurança".

Anônimo disse...

Sobre Concientização e Treinamento da Polícia com Capoeira de Angola
Diálogo de Quarta-feira, 6 de Junho de 2007


Índio Branco: Cultura... é uma fonte tão valiosa de humanidade... nos ensinando o que é, ser humano...
Acho que eu vou descolar os textos da folha na internet e disponibilizar no meu Blog...
Viu, Jê... Cê tem alguma referência acadêmica da importância da Cultura na recuperação de pessoas após experiências traumatizantes como confrontos violentos em momentos de Guerra? Tipo, algo que eu posso usar para me referir ao Complexo do Alemão?
Eu preciso de alguém famoso que já desenvolviu teorias e experiências neste sentido... também preciso de exemplos concretos de estatísticas sobre a concientização e treinamento das forças policiais... tudo que eu tenho é literatura clássica, e já foi criticado como referências absurdas
Platão... por exemplo, não vai servir como argumento... preciso de exemplos de estatística e referências históricas...
Estou montando algo maior ao redor do meu artigo... Quero levar a idéia para alguém interessado nesse tipo de coisa na USP... procurar apoio...
Sinto que essa é a obrigação dos pensadores... passar as idéias adiante...
Eu conheço alguma coisa sobre a polícia da China... mas não tenho referências espicíficas... Mesmo na Internet eu não acho o que eu quero

Jefferson: então eu lí o artigo...............
porém.....
na minha interpretação e rude leitura da elaboração e elucubração teórica da capoeira em termo escritos feito por tí...........
me parece uma proposta idealística dentro de um processo sócio-cultural desfavorável para esse tipo de formação, mas compreendi o que quis dizer a respeito da importância do trabalho da arte

Índio Branco: Você não leu a folha no domingo?

Jefferson: peraí, deixa eu terminar minha idéia sobre seu artigo

Índio Branco: perdão interrompi o seu raciocínio

Jefferson: não li
mas meu parâmetro é seu artigo
então.....
penso que c fosse para formar o "braço armado do estado",
que na minha opiniã são mentalidades domesticadas por uma corporação que tem com princípio fundante a preservação do patrimônio de quem realmente constroi esse mundo de materialidades frouxas e dispersas...
não teríamos capoeiristas com o ideal que c preza muito
que é o da integridade de espírito
e quem é cooptado perde esse perfil
creio ser complexa essa proposta, mas não pode deixar de c pensar nessa ou em alguma perspectiva semelhante para o treinamento de sujeitos ( não a "polícia") o próprio nome já diz!
mas de outros atores que c ocupem da função de além de preservar a nossa cultura viva manténham a mente sana
[a polícia pra mim não pensa muito e nem a corporação e muito menos a instituição pensa em trabalhar a segurança de um par de favelado
negro
mestiços dispersos na porção que lhes foi negada
de construção da sua identidade a partir de sua própria concepção de mundo
num sei se fui claro

Índio Branco: foi claro sim, Pois é...

Jefferson: mas minhas idéias sobre esse assunto circunda em torno desse eixo

Índio Branco: é a realidade dos policiais... O que me intriga mais é a sua capacidade de elaborar-se no assunto... ninguém até agora foi capaz de se articular sobre o meu artigo... provávelmente devido a influência da Capoeira no tema..
Sinto que a sua interpretação é como a minha interpretação.. de muitos outros capoeiristas tambem... e realmente... cooptar um capoeirista apaixondado me parcece castrar a sua alma... aconteceu com coelho, aconteceu com Mestre Gladson... e alguns outros que eu conheço...
Eu apenas escrevi por causa dos artigos da folha no domingo... Existem especialistas no Rio que são completamente contra a invasão do Alemão... outros que acreditem no concientização e treinamento dos policiais (mantendo invasão) e duplamente concientizando os favelados por meio de uma invasão cultural...
Fico bastante desmoralizado com a realidade do nosso país... a construção de nossa estrutura predeterminou que o papel da cultura com nosso jovems está com as bibliotecas e da educação na escola... e não existem prédios suficientes para sustentar a demanda

Anônimo disse...

Acredito que a cultura brasileira está chegando perto do limite, devo lembrar que esta está em greve, mais ou menos uns 3 meses no Rio de Janeiro ou quem sabe no Brasil todo e no entanto quem está ligando para isso?

Voltando a questão cultural. Estamos vivendo uma crise generalizada moral, cultural, social, que se reflete em hospitais sem médicos, policiais corruptos, políticos podres e este último acredito ser o pior de todos os problemas. O último é o sinônimo da conduta imoral sem justiça no qual nem provas nem nada são capazes de retificar, condenar ou prejudicar e que nos dão um exemplo totalmente errado do que deva ser uma sociedade ideal.

Porém mais do que exemplos errados, hoje em dia temos a cultura errada, no qual a lei do mais esperto, da vantagem, do dinheiro como objetivo primordial acaba passando por cima de valores como o respeito, honestidade.

O mais absurdo de tudo isso é: o quanto vale uma vida?

O que compra a saúde do planeta? O seu status, carro, iate, conta nos paraísos fiscais pagam a destruição social? E a indústria do petróleo paga a destruição do planeta? Para onde nós estamos indo em busca de um monte de papel desenhado que se chama dinheiro? Será que poderemos comer este papel, respirar este papel, bebê-lo?

Acredito que o mundo esteja acabando e está somente acabando por causa da forma em que pensamos.

"Penso logo existe, ou não."

Abraços

Fabio
http://www.link-to-sleep.blogger.com.br/

Unknown disse...

Olá, Mário! Tudo bem?

Li o seu artigo "Conscientização e Treinamento" da Polícia com Capoeira de Angola". Aqui vão alguns comentários sobre ele.

De modo geral, eu acho que seria muito bom para um policial - como para qualquer outra pessoa - aprender capoeira: é um esporte, uma expressão de cultura, é mesmo uma filosofia de vida. Assim sendo, eu não quero entrar no mérito sobre se o aprendizado da capoeira trará ou não benefícios - acho que traz.

Agora, como eu lhe havia dito, não vão ser poucos os obstáculos que você terá de enfrentar para alcançar seu objetivo. Resumidamente, eu poderia quantificar esses obstáculos em três: o burocrático, o institucional e o cultural.

O obstáculo burocrático a ser batido é o da dificuldade de conversar com algum responsável direto pela estrutura curricular da polícia, o de encaminhar uma proposta (documento pra lá, documento pra cá), justifica, rejustifica, explica, etc... acho que você tem experimentado isso no caso da sua naturalização, como você havia dito.

Do ponto de vista institucional, a barreira é a de não ser policial e tentar introduzir uma mudança no território "deles", "os policiais". Você vai ouvir muitas coisas como "você não sabe como é o dia-a-dia de um policial", "as coisas aqui não são bem assim...", "nós já temos oficiais que se dedicam ao aprimoramento dos nossos soldados...", etc.

E, finalmente, o obstáculo cultural será demolir a imagem de marginlidade que via de regra é associada a qualquer manifestação cultural de origem africana. Ouvir os berimbaus no fundo do quartel é uma imagem difícil de conceber entre os policiais e entre a população em geral. Como eu disse, é muito mais fácil que a PM esteja aberta a aprender artes marciais como o Judô ou o Krav Magá, do que a Capoeira.

Mas tudo está perdido? Acho que não. Se isso é uma convicção e você está disposto a enfrentar essas (e outras barreiras), então mãos à obra. Apesar de todas as dificuldades de mudança na polícia, ela muda. Existem vias por onde você pode trafegar e trabalhar por mudanças.

Em todo caso, boa sorte, as coisas são impossíveis até que se tornem inevitáveis.

Abraços!

Anônimo disse...
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